Fraternidade e a vida no planeta

“A Criação Geme em Dores de Parto” (Rm 8,22)

Há alguns anos, os temas das Campanhas da Fraternidade, algumas delas ecumênicas, tem tratado de assuntos ligados à ecologia, ou seja, a preservação da nossa casa comum, o Planeta Terra, para que todos os povos possam usufruir dos seus benefícios, e ter uma vida digna de filhos e filhas de Deus. Diante da óbvia destruição do meio ambiente, com resultados desastrosos especialmente para as regiões mais pobres, é muito oportuno o tema da Campanha de 2011 “A Vida no Planeta”, com o lema tirado da Carta de Paulo aos Romanos “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22).

A Campanha tem um objetivo muito claro: Contribuir para a conscientização das comunidades cristãs e pessoas de boa vontade sobre a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas, e motivá-las de participar em debates e ações que visam enfrentar o problema e preservar as condições de vida no planeta. Como de praxe, o texto-base deste ano segue a consagrada metodologia do Ver-Julgar-Agir. Vale a pena ler esse livreto que expõe de uma maneira objetiva e clara a gravidade da situação, analisa-a à luz da Palavra de Deus e da Teologia, e sugere pistas concretas para enfrentar esse problema a partir das bases.

É óbvio que esse tema interessa não somente cristãos, mas todas as pessoas que tem interesse na preservação da vida no planeta. Mas é bom que nós, discípulos e discípulas de Jesus Cristo, aprofundemos a mística que fundamente o nosso engajamento nesse tema.

O que fundamenta toda a nossa ação como católicos e cristãos, é a fé que nós temos no Deus da Bíblia, que se encarnou no meio de nós na pessoa e missão de Jesus de Nazaré que veio “para que todos tenham a vida e a vida em abundância” (Jo 10,10). Freqüentemente a humanidade tem mostrado uma grande capacidade de criar um Deus em nossa imagem e semelhança! Precisamos ter clareza que o Deus em que nós acreditamos, o Deus de Jesus Cristo, é aquele que se revelou nas Escrituras, o Deus da vida.

A própria Bíblia inicia-se, no livro de Gênesis, mostrando Deus sendo vitorioso sobre o caos, organizando o cosmos e revelando-se como doador da vida. Deus deu à terra o poder de gerar o que é necessário para a vida (Gn 1,12) criou uma grande harmonia e solidariedade cósmica, integrando animais, a natureza e os seres humanos, - e Deus viu que “tudo era muito bom” (Gn 1,31).

Mas Deus tomou mais uma atitude importante – ele confiou o cuidado da natureza criada aos seres humanos “sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetai-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão” (Gn 1,28). Infelizmente, uma interpretação equivocada desse texto tem servido como pretexto para a exploração irresponsável dos recursos da natureza, sem consideração para com o plano de Deus, nem levando em conta as gerações futuras, mas somente usando a natureza como fonte de lucro desenfreado.

O termo “dominar” vem da palavra latina “dominus”, que significa “senhor”. Então, na Bíblia, “dominar” não significa explorar de qualquer jeito a natureza, mas exercer o senhorio sobre ela, usando como modelo o senhorio de Deus, que dá a vida e é a fonte da vida. Assim, para a Palavra de Deus, humanidade – você e eu incluídos – recebeu do próprio Deus a tarefa de cultivar a natureza, de zelar por ela, de contribuir com o seu crescimento e evolução em todas as suas dimensões. Temos o dever de gradativamente recuperar a utopia de Gênesis, ou seja, harmonia entre os seres humanos, entre eles e a natureza criada, e entre tudo e Deus. Nós, que fomos criados “na imagem e semelhança de Deus” devemos lutar em prol da manutenção harmônica da obra do Criador.

Contamos hoje com as inumeráveis descobertos da ciência para que cumpramos esse nossa tarefa. Mas é bom a gente fazer a pergunta feita pelo Papa João Paulo II na encíclica Redemptoris Hominis, “todas as conquistas alcançadas até agora, bem como as que estão projetadas pela técnica para o futuro,estão d acordo com o progresso moral e espiritual do ser humano¿” (RH 15)

O texto-base da CF nos alerta que, se de um lado o progresso científico trouxe muitos avanços para o bem comum, também introduziu muitas situações que atentam contra a vida em sua dimensão planetária. As ameaças não vêm da ciência, mas da ganância e falta de ética daqueles que abusam da tecnologia para ganhar lucros enormes às custas da vida no planeta. Vivemos numa sociedade pós-moderna que é idolátrica e não atéia – tem um absoluto – o lucro individual imediato. Para que os detentores do poder econômico faturem cada vez mais, vale a destruição do meio ambiente, o efeito estufa, o aquecimento global, a poluição das águas, a destruição da qualidade da vida humana.

A Campanha não só quer chamar a nossa atenção para esta situação – pretende que todos os participantes assumem atitudes e ações que combatem a destruição da vida no planeta. Cada pessoa é convidada a rever a maneira em que com que usa a natureza – o gasto desnecessário de água, o tratamento dado ao lixo doméstico, o uso de agrotóxicos, a poluição do ar, o uso de plásticos descartáveis e assim por diante. Se cada pessoa muda de atitude, e se torna um gestor da natureza, um zelador e co-responsável pela criação, devagar podemos mudar esse espiral de destruição, esse caminho mortífero. Lembremo-nos que somos, como batizados, continuadores da missão de Jesus que ele mesmo definiu como dar a vida e a vida em abundância (cf. Jo 10,10). É uma atitude não somente de bom senso, mas de fé, lutar para uma melhor qualidade de vida para todos, fazendo-nos assim parceiros com o Deus de vida, que nos confiou a grande missão de criar um mundo de harmonia e solidariedade, simbolizado pela história da criação.

Assumamos cada vez mais essa bela missão, a partir da Campanha da Fraternidade deste ano.

Pe. Tomaz Hughes SVD

 

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