Fundamentalismo Eleitoral

Na década de 60, causava estranheza as cenas de monges budistas se incendiando em protesto contra atuação militar estadunidense no Vietnã. O Vaticano chegou a condenar, assim como a greve de fome de Dom Luís Flávio Cappio.

Houve quem tivesse a infeliz idéia de compará-lo a Frei Damião. Outro classificou o gesto como tresloucado, outro ainda como fundamentalismo religioso.

Quando a insensatez é superlativa e não cede a nenhum argumento, há gestos que, na linguagem bíblica se denominam proféticos (não guardam nenhuma relação com advinhação). Quase não se ouvia falar da “transposição das águas do rio São Francisco”, aliás, projeto já em andamento, a despeito da desaprovação da SBPC.

Usa-se como argumento a salvação da população vítima da seca. A experiência do DNOCS nos faz lembrar que tola cautela é insuficiente. A exitosa articulação do semi-árido com a construção de cisternas domésticas quase não foi divulgada. É de se indagar pelos motivos pelos quais não se intensificam as experiências respaldadas por universidades, de baixo custo e de êxito confirmado. Não há como não se suspeitar que estão em jogo interesses de grandes empresas de construção, do agro-hidro-negócio somados ao fundamentalismo eleitoral.

Há dois anos, um despejo de melaço de cana-de-açúcar no rio Pardo (SP) causou a morte de mais de 200 toneladas de peixes. É o que pode ocorrer também no Pantanal se, em suas proximidades forem instaladas as usinas de álcool na região de Coxim, a despeito da proibição da lei 328/92, agora em debate na Assembléia Legislativa. Até o dia 30 o parecer seria votado.

Todas as gestões em contrário pareceram inúteis, levando Francisco Anselmo de Barros, no último dia 12, a atear fogo sobre o próprio corpo durante um protesto contra a instalação das usinas.

Um terço dos deputados a favor, um terço contra e um terço sem saber o que é. Já que não temos voto para salvar o Pantanal, vamos dar a vida para salvá-lo.
declarou na carta a seus colegas.

Nada tem de tresloucados esse atos. Os monges budistas do oriente são famosos pelo equilíbrio. Dom Luís Flávio Cappio é o exemplo de sensatez e serenidade. Francisco Anselmo de Barros é um dos pioneiros da preservação ambiental, ativista há mais de 30 anos.

Todos têm em comum uma profunda coerência com seus princípios e decidiram levar até às últimas conseqüências a defesa da vida. Os recentes tsunami, secas na Amazônia (!), tufões e inundações de grandes proporções aí estão para alertar. Não se tratam de gestos antiquados nem tresloucados: inserem-se no que há de mais moderno: a defesa do equilíbrio ambiental e, em momentos de perigo iminente, ações capazes de provocar grandes constrangimentos éticos. Oxalá não sejam em vão.

Iolanda Toshie Ide
Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Lins;
Representante da Pastoral da Mulher Marginalizada no setor de Pastorais Sociais da CNBB;
Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Ação " Educação e questões de Gênero", da UNESP de Marília / SP

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