Uma luz deslumbrante emanava de uma peça comprada de um coletor de material reciclável. De cor azulada, era tão intensa que, para não ofuscar, fora coberta durante a noite, guardada debaixo da cama da menina Leide.
O coração de um aparelho de radioterapia fora negligentemente abandonado e aberto a golpes de marreta. Um mês após, a menina Leide das Neves Ferreira e outras três pessoas estavam mortas, 249 foram contaminadas pelo césio 137.
Com esse costumeiro desleixo que caracteriza o trato com os resíduos chamados lixo, pensar em usina nuclear é pura temeridade.
Em visita ao Museu de Mineralogia de Belo Horizonte, a atriz Lélia Abramo (cujo centenário de nascimento comemoramos neste ano), foi convidada pelo diretor a apreciar algo guardado a sete chaves num cofre de múltiplas paredes. Era o urânio com sua magnífica luz azul.
O grave acidente com as usinas em Fukushima alertam para o fato: em se tratando de energia nuclear não de pode falar de segurança, sobretudo porque ainda nem se encontrou uma solução satisfatória para os rejeitos atômicos. A Alemanha armazenou 126 barris de resíduos radioativos de baixa e média radioatividade (que datam de 1967 a 1978) a 625 metros de profundidade. A infiltração de água salina alerta para um perigo iminente.
Após o grave acidente de Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979, era de se esperar maior cautela na opção pela energia nuclear. No entanto, as usinas foram se multiplicando, a segurança foi afirmada e reafirmada até Tchernobil. Pensava-se que a lição seria aprendida, mas hoje vivemos o medo de Fukushima.
De um modo geral, as populações reagem contra a instalação dessas centrais, mas governos são cooptados pelas grandes indústrias e sabe-se que basta apenas um passo para a proliferação de armas nucleares.
Não é sem razão que a chanceler Ângela Merkel perdeu as eleições em seu reduto. O presidente Sarkosy também amarga uma vertiginosa queda nos índices de aceitação. Os povos estão cansados de serem expostos a riscos por mandatários que não ouvem seus brados.
Recentemente, chegou a um porto brasileiro um navio britânico com o objetivo de depositar em solo brasileiro conteiners contendo lixo. Minha primeira suspeita é de que poderia conter rejeitos atômicos. Felizmente o então presidente ordenou o retorno do navio.
Iolanda Toshie Ide