Irmã Marli

 

"O melhor lugar do mundo é onde Deus me quer". São José Freinademetz

Irmã Marli: "Um dos maiores desafios, porém, é a situação política, social e econômica do país, a ditadura massacra o povo há 38 anos. Haja resistência!"

 

 

Sou natural de Guaratinguetá, estado de São Paulo. Em 1982 fiz meus primeiros votos na Congregação. Trabalhei no Rio, Colégio Nossa Senhora da Piedade, e em Belo Horizonte, no Sagrado. Depois fui para Rio do Prado, no Vale do Jequitinhonha. Em 1989, recebi destino missionário para a África Ocidental, mais especificamente, para o Togo.

Nós, SSpS, fomos a primeira congregação missionária a chegar ao Togo, depois de tantas décadas. Na verdade, foi um retorno. Chegamos pela primeira vez ao País em 1907, para logo, em 1914, termos que sair de lá em conseqüência da 1ª guerra. Eu cheguei no Togo no ano do centenário da Congregação, portanto, em tempo de comemorações. 

Do total de 5 milhões e 600 mil habitantes do Togo, estima-se que 15% sejam Muçulmanos, 22% Cristãos e 13% Católicos e os outros 50% são Animistas (religião tradicional). O milho, transformado em angu, constitui a base da alimentação do togolês; o arroz é para dias de festas e de funerais. A cerimônia de funeral de uma pessoa idosa se transforma em uma espécie de ação de graças pelo tempo de vida que ela desfrutou.

Hoje formamos lá 3 comunidades. Somos em 19 Irmãs. Crescemos, pois já contamos já com três companheiras togolesas, sendo duas junioristas e uma noviça. 

Nossa missão em Togo abrange vários campos, como em geral acontece em todo lugar. Fazemos pastoral propriamente dita, que lá constitui ainda num trabalho de primeira evangelização; estamos na saúde preventiva, que consiste em preparar as pessoas do povoado para fazer os primeiros socorros, inclusive partos tradicionais; temos uma farmácia comunitária, necessária devido às dificuldades de acesso do povo ao hospital; trabalhamos com promoção da mulher, no apoio a deficientes físicos, sobretudo vítimas da poliomielite. Em cada comunidade há uma Irmã que acompanha os portadores de deficiência física, que são muitos no país. Temos uma colaboração financeira da Fundação Lilian destinada à assistência médica, estudo e formação profissional para jovens e crianças e inclui a participação da família. 

Há quatro anos estou na capital, Lomé. Em 2002, começamos a preparação da Assembléia Africana da Mulher, que seria realizada no ano seguinte, lá mesmo, em Lomé. As responsáveis nacionais passavam em todas as paróquias motivando a todas, propondo-nos como instrumento uma pesquisa sobre a violência doméstica contra a mulher, tanto adulta, como adolescente ou ainda criança. O evento contou com 114 representantes de 21 países africanos e teve como tema: “Os desafios da Missão Profética da Mulher Africana, hoje” e, apesar de ter sido convocada pela União Nacional de Organizações Femininas Católicas, foi um trabalho aberto a todas as confissões e credos religiosos. As prioridades saídas do evento foram o trabalho na educação das meninas, a luta contra o tráfico feminino, a valorização da família e um enfoque especial ao problema dos portadores do vírus HIV. Foi a partir dessa Conferência que iniciamos um trabalho mais sistemático, nas paróquias, com jovens do sexo feminino. 

A conscientização sobre o HIV começou com a preocupação de um jovem infectado, que nos procurou e deu um depoimento cortante, de como começou a ser discriminado a partir do momento que souberam de sua situação de HIV positivo. Esse rapaz tinha idéias, queria reunir os amigos que também eram soropositivo. Então, começamos a reunir as pessoas interessadas e formou-se a Associação “A Cruz que Floresce”. Felizmente, contamos com a colaboração de técnicas da área da saúde, como médicas e enfermeiras. 
Em 08 de março de 2004, dia Internacional da Mulher, participamos de uma conferência sobre a situação do povo com HIV. Aos poucos, foi se tornando do conhecimento público que Togo também estava muito ameaçado pela epidemia. Muita gente idosa, senhoras parteiras, sobretudo, estavam sendo contaminadas durante os trabalhos de parto e outros cuidados com pessoas infectadas. Participamos em três Irmãs de congregações diferentes. Foi uma revelação dolorosa, também para nós. A partir de então, iniciamos um trabalho mais sistemático de conscientização sobre a doença, suas características, suas causas e, sobretudo, como preveni-la. 
No Dia Internacional das Vocações fizemos todo um trabalho em torno do tema do dia; convidamos outras paróquias a se juntarem conosco.
Foi uma grande assembléia.

Para manter as atividades, as mulheres fazem belos trabalhos em batique e também confeccionam velas artesanais, que depois são vendidas durante os eventos. Temos alfabetização na língua local, o EWE, também temos, ginástica e recreação. Somos aproximadamente 30 mulheres no grupo e fazemos parte da FOFCATO, Fundação das Mulheres Católicas do Togo. Apesar do título, o grupo é aberto a participantes de qualquer outra crença. Nosso grupo foi até o norte do País para ensinar mulheres mais jovens; temos encontros mensais nas paróquias e bimensais com grupos de várias outras paróquias. 
No interior também há um bom trabalho em torno da promoção feminina e com portadores de deficiência. São realizadas oficinas de conscientização e capacitação das jovens para trabalhos específicos e para o aprendizado da língua oficial, o francês.
Há também um povo nômade, vindo do Mali, que nos procura sobretudo em busca de atendimento à saúde. Vive da criação de gado e é muito honesto nas transações.

Como missão, temos vários desafios, sendo que um deles é a grande variedade de idiomas (ao todo 40) usados no País. Nós missionárias e missionários fazemos o esforço necessário para aprender o francês e, quando lá chegamos, percebemos que não estamos prontas para nos comunicar com o povo, sobretudo do interior, que só se comunica em sua língua natal. O francês é a língua oficial, de poucos. Levei um ano só visitando e ouvindo, tentando entender alguma coisa. O pior é que, quando mudamos de região, temos que começar tudo de novo. Um dos maiores desafios, porém, é a situação política, social e econômica do país, a ditadura massacra o povo há 38 anos. Haja resistência! E a nossa missão é ser presença no meio desse povo. Outro desafio à vista, belo porém, é a perspectiva de fundação de uma comunidade, extensão nossa, no país vizinho Benin, que é uma outra realidade.
O que nos cativa na missão é a abertura do povo, em geral, que nos recebe bem, que colabora, que luta para sobreviver e, não obstante, é gente alegre.
ALAFIA! ALAFIA! Tudo vai bem!

Irmã Marli Gonçalves Moreira, SSpS - pertence a Província Brasil Norte
março/2005

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