Quem me conhece sabe o tremendo apreço que tenho por poesia. Não é o gênero mais popular entre os leitores jovens, tenho plena ciência — ainda que, em minha humilde opinião, muito mais gente as devoraria se tivessem um maior contato com o gênero —, mas sempre me encantei e me perdi no mundo lírico, reflexivo e levemente melancólico criado por esses autores. Sempre gostei, sim, de poesia, mas posso afirmar com veemência que o que me fez amar a poesia tem nome e sobrenome: Carlos Drummond de Andrade.
Li, durante muito tempo, poemas e contos esparsos do autor. Já era fã de carteirinha — ouso dizer que, entre os nossos poetas, é Drummond que mais me toca —, mas sentia que precisava cada vez mais saber sobre sua obra completa (e, se tratando do autor, é válido saber que ele possui dezenas e mais dezenas de livros em sua "humilde" biografia). Demorei a encontrar um livro de Drummond que me parecesse transmitir sua essência como poeta; mas, depois de realizada essa leitura, não poderia ter me encontrado mais feliz.
O que me chamou atenção nessa antologia, a princípio, é o fato de ela ter sido organizada pelo próprio Carlos Drummond, em 1962. Nesse ano, o autor resolveu separar e classificar seus poemas em diferentes temas, por nove sessões, que nos são apresentadas na obra. Sendo elas O indivíduo; A terra natal; A família; Amigos; O choque social; O conhecimento amoroso; A própria poesia; Exercícios lúdicos e Uma visão da existência, conseguimos ter uma pequena palha do que nos aguarda.
A verdade é que, em um milhão de anos, não conseguiria descrever a qualquer um todos os sentimentos que a poesia de Drummond traz a tona em meu coração. Toda a dor, toda a angústia, a revolta e a desesperança que já senti para com o mundo. Todo o carinho, o afeto, o amor e a esperança que já senti para com as pessoas. Toda a saudade, a melancolia e o apego que viver, cada dia de minha vida, já me trouxe. Esses sentimentos, tão bonitos ou feios, tão simples e tão complexos, consegui encontrar nas páginas desse livro, escrito por homem há tantos anos atrás. E, ao mesmo tempo, poderia ter sido ontem.
Com sua poesia lírica, quase musical, esse gênio brasileiro me trouxe a tona todo o sentimento do mundo, como ele mesmo já colocou. Chorei, ri e vi situações da vida com outros olhos sob a perspectiva tão realista, tão simplista e ao mesmo tempo tão complexa que nos é presenteada por Drummond. É através de versos simples, mas surpreendentemente impactantes, com situações do cotidiano, que ele irá tocar sua alma, assim como tocou a minha, e faze-lo se apaixonar pela sua poesia despretensiosa, e, por isso, tão real.
Com uma edição simples o suficiente para não tirar o foco do principal, a poesia, mas sofisticada o suficiente para fazer jus a grandeza do autor, a Editora Companhia das Letras não poderia ter acertado mais na elaboração do design. Com as folhas amareladas e um material de ótima qualidade, uma fonte simples e diagramação bela não há como não admirar seu trabalho, e é notável o cuidado da editora ao manter o estilo de Drummond em cada página. Também não encontrei nenhum erro de ortografia sem revisão durante a edição, o que é sempre agradável.
Creio que não há como convencer alguém da grandiosidade de um livro, por mais que se tente, até a pessoa possuir um contato próximo com ele. A medida na qual eu posso afirmar, contudo, serei incisiva: leiam, leiam e leiam. Não é uma obra de ficção, mas trata-se de um dos melhores livros com os quais já tive contato em minha vida.
REFERÊNCIA DO BLOGSPOT:
PRATES, Gabi. Resenha – Antologia Poética de Carlos Drummond de Andrade. Palácio dos livros, 2016. Disponível em: <https://palaciodelivros.blogspot.com.br/2016/06/resenha-antologia-poeticacarlos.html>. Acesso em: 02 ago. 2016.
REFERÊNCIA DO LIVRO:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.